sábado, 10 de novembro de 2012

Seleção



- Seane Alves Melo?

Levantei e entrei na sala. Um deles me apontou a cadeira solitária posicionada de frente para uma mesa larga e comprida de onde os três me encaravam.

Pediram para que eu me apresentasse.

Bom dia. Meu nome é Seane Melo e eu acabo de chegar de táxi. Nesse momento, a única coisa que eu consigo dizer ao meu respeito é que eu sempre uso cinto de segurança. No táxi que me trouxe há pouco, eu coloquei o cinto no banco de trás, mesmo que o motorista não tivesse me pedido para fazê-lo. No avião que peguei para chegar até aqui, deixei meu cinto atado durante as três horas de vôo. Talvez eu devesse falar outra coisa sobre mim, mas de repente percebo que o cinto de segurança diz mais sobre mim que muitas outras coisas.

Vocês podem pensar que ser a garota do cinto de segurança só diz que eu sou uma pessoa normal, mas eu acho que não. Para mim, normal é a pessoa achar que o cinto é apenas uma ferramenta disponível para quem quiser ou uma imposição boba. Quem não usa cinto não é transgressor. Quem não usa cinto está apenas aplicando uma regra que ele aprendeu a achar inteligente: “nem tudo na vida é necessário”. Não usar cinto é simplesmente mais fácil.

Quem usa o cinto, depois de refletir sobre a sua utilidade, ainda tem que aceitar que nem sempre é ele que vai decidir o que é certo. Quem usa cinto, escolhe o esforço, escolhe andar na linha. E, meu Deus, como isso é difícil! Eu tenho andado na linha. Eu percorri o caminho que me disseram ser correto. Dei passo a passo. 

Lá fora, todo mundo me acha quadrada. Eu me sinto ampla e espaçosa. Mas isso pouco importa agora. Eu sempre uso cinto de segurança. O meu caminho me trouxe até aqui. E agora, nessa cadeira, peço licença para colocar o cinto. Pois a estrada vai ser muito longa. Mas já estou pronta para essa nova viagem.

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