quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Portas


"Eu quero te ver". - Tá....

Com um misto de indignação e tristeza (muito mais dessa), eu sentenciei. Você vai ter que fechar a porta. Você hesitou e, enfim, concordou. Fechou. Bruscamente, exalando a falta de eco do ponto final. Engoli todas as palavras que já estavam separadas em algum lugar da minha boca, principalmente o "mas".

Pelo menos uma porta se fechou. Era o pensamento que tentava conter emoções de quem acha que não compreende mais nada.  Porque eu...

Ainda tenho algumas portas abertas. Não tiveram coragem de fechá-las. Apesar de abertas, de lá, quase nunca sai nada. Apenas uns sorrisos de teclado de computador e promessas levianas de "quando..." e "se...".

Tenho algumas portas que não consigo fechar. Nunca tive coragem de fechá-las. Elas me mantêm cativa e me alimentam de sorrisos de teclado de computador e promessas levianas de "quando tu..." e "se a gente...".

Tenho algumas portas que não quero fechar. Nunca tive vontade de fechar. Mesmo tiranas, insisto em ler carinho nos sorrisos de teclado de computador e sonhar com as promessas levianas de "quando a gente se encontrar" e "se eu te amasse".

Tenho só essas portas. Você fechou a última. Fez bem! 

Não, não fez. Deixa aberta, vai. Que eu tenho até a minha eternidade para descobrir que não foi em vão.

Querido, abre, por favor. Que nessa vida a gente sai deixando amor e não consegue mais voltar atrás.

sábado, 18 de agosto de 2012

Egoísta


A visão dela desceu áspera pela garganta. Tive raiva dessa estranha com quem nunca troquei mais do que algumas risadas e palavras bem humoradas sobre histórias que não lembro. Ela é bonita até, mas não está na sua melhor forma. E não posso ser generosa com elas quando se trata de você.

No sorriso amigável dela perto dos meus outros amigos, não via os olhos vivos, a boca, o nariz, nada dessa face que até pouco tempo me era indiferente. Via os vestígios dos teus beijos ainda na boca e no pescoço dela. Juro que posso sentir um fio quase invisível do teu cheiro emanando do corpo dela. Vejo nas costas dela a moldura dos teus abraços, dos delicados e dos vorazes. Por que ela? Por que não eu? Por que não sempre eu?

Se o teu amor é sagrado, por que não me fizeste cúmplice de todos os teus pecados? Mudano, pra mim és divino. Me segurem! Quero arrancar tudo dela. Quero roubar esses momentos que não sei quantos foram. Não quero que elas saibam o que eu sei. Não quero que elas tenham provado o mesmo. 

Não me apresente mais nenhuma. Não deixe que me contem que essa já foi tua e que aquela dormiu na tua cama. Eu quero que seja meu o cheiro deixado no teu travesseiro. Quero que o fio de cabelo no chão do banheiro me pertença enquanto andares errante. Se encontro com uma delas numa mesa de bar, não me aponte. Elas são loucas, elas são xoxas e eu posso ser tudo isso e ainda engraçada, irônica e apaixonada.

Vou puxar a toalha da mesa e derrubar a cerveja dela. Quero que derrame tudo e apague as gotas de suor que escorreste nela. Eu reivindico o teu cansaço, o teu prazer e o coração disparado. Quero o teu bom humor, a tua risada forçada, as tuas gírias estranhas, as tuas conversas bizarras. Quero o teu olhar sem adjetivos e a careta também. Me dá tua canalhice. Me dá as desculpas esfarrapadas e as revelações de bêbado. Quero o café, o croissant e o sorvete que tenha provado com qualquer outra depois Daquela. 

Eu não peço muito. Só queria tudo. Tudo o que sobrou de ti. Sorrio só de pensar que não existiria a amiga da amiga na festinha, a garota estranha na birosca, a anfitriã do apartamento ou a que achou que estaria grávida. Não sei por que procuras. Estou aqui. Desperdiça em mim levianamente o que só queria dar pra Ela. Eu apenas queria todas as alegrias das mulheres que também não amaste. Quanto às tristezas, já tenho todas em mim.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...