terça-feira, 27 de novembro de 2012

Os sonhadores


Como uma pessoa pode se tornar inesquecível para você?

Conheci esse garoto recentemente. Doce, gentil, um pouco sarcástico, mas com uma sensibilidade que de cara me encantava. A sensibilidade das partes preferidas nos filmes, das piadas mal feitas e das brechas de sinceridade atordoante no meio de uma longa conversa.

Estávamos distantes, mas queríamos companhia (talvez o fato que mais nos aproximasse). Então ele fez o convite: vamos para webcam? Vamos.

A sua aparência combinava com todas as impressões que eu já tinha. A voz também. Era uma voz que não negava a sua masculinidade, mas que ainda deixava transparecer um pouco de um garoto que os anos deixavam pra trás. É difícil me lembrar do que falávamos. Filme, viagens, quadrinhos, olha esse link, já assistiu isso?, esperaí, não to ouvindo, entendi, e então, já lembrou desse ator?, tu trocou de camisa?, sim, vou sair já já...

Até que em um momento em que me distraía no silêncio dele e começava a perscrutar a tela do computador, ele levanta. Vejo apenas um relance da silhueta acenando. Tchau ou espera aí? Achei que devia esperar.

Devo ter esperado dois minutos meio atordoada. Até que ouvi ao longe uma voz. Esse menino sai e deixa tudo ligado mesmo?

Esse garoto, eu nunca vou esquecer.


sábado, 10 de novembro de 2012

Seleção



- Seane Alves Melo?

Levantei e entrei na sala. Um deles me apontou a cadeira solitária posicionada de frente para uma mesa larga e comprida de onde os três me encaravam.

Pediram para que eu me apresentasse.

Bom dia. Meu nome é Seane Melo e eu acabo de chegar de táxi. Nesse momento, a única coisa que eu consigo dizer ao meu respeito é que eu sempre uso cinto de segurança. No táxi que me trouxe há pouco, eu coloquei o cinto no banco de trás, mesmo que o motorista não tivesse me pedido para fazê-lo. No avião que peguei para chegar até aqui, deixei meu cinto atado durante as três horas de vôo. Talvez eu devesse falar outra coisa sobre mim, mas de repente percebo que o cinto de segurança diz mais sobre mim que muitas outras coisas.

Vocês podem pensar que ser a garota do cinto de segurança só diz que eu sou uma pessoa normal, mas eu acho que não. Para mim, normal é a pessoa achar que o cinto é apenas uma ferramenta disponível para quem quiser ou uma imposição boba. Quem não usa cinto não é transgressor. Quem não usa cinto está apenas aplicando uma regra que ele aprendeu a achar inteligente: “nem tudo na vida é necessário”. Não usar cinto é simplesmente mais fácil.

Quem usa o cinto, depois de refletir sobre a sua utilidade, ainda tem que aceitar que nem sempre é ele que vai decidir o que é certo. Quem usa cinto, escolhe o esforço, escolhe andar na linha. E, meu Deus, como isso é difícil! Eu tenho andado na linha. Eu percorri o caminho que me disseram ser correto. Dei passo a passo. 

Lá fora, todo mundo me acha quadrada. Eu me sinto ampla e espaçosa. Mas isso pouco importa agora. Eu sempre uso cinto de segurança. O meu caminho me trouxe até aqui. E agora, nessa cadeira, peço licença para colocar o cinto. Pois a estrada vai ser muito longa. Mas já estou pronta para essa nova viagem.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...