quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A geração do "fica"



Hoje, acabei sendo fisgada por uma chamada do “Don’t touch my moleskine” que anunciava o fim do namoro. De início, pensei que poderia ser um conto desses que eu talvez ficasse muito grata ao ler, mas logo percebi que a imagem postada mostrava várias pessoas paquerando e se comunicando via celular.

Cliquei e fui parar nesse texto do New York Times.

Confesso que sempre me assusto com textos que anunciam o fim de algo. Essa semana mesmo, o Xico Sá havia postado um texto excelente alertando sobre o fim da cantada, da conquista e do xaveco. E, agora, o fim do namoro também estava sendo anunciado!

Se você ler o texto, você vai entender que eles não falam do fim do compromisso exatamente, mas, digamos, do fim do comecinho romântico e cheio de expectativa. Adianto que não gosto de quem quer ser laudatório com os comportamentos humanos. Tudo tem sua exceção, não é? Ainda mais em um contexto em que milhões de pessoas não têm nenhum acesso à tecnologia e que, portanto, não partilham várias das características da chamada “nossa geração”. 

Mas, deixando isso um pouco de lado, o texto me fez perceber que, afinal, o que eu vivia era o que muitas pessoas ao redor também viviam. O grande lance é que demora um tempo até alguém escrever um texto dizendo: “ei, tá vendo isso? As coisas estão legais assim?”.

Na matéria, várias pessoas contam experiências de como, por exemplo, não saíam mais para encontros. O esquema era quase sempre o mesmo. A conversa era iniciada (pessoalmente, via internet ou sms) e em seguida marcava-se algo. Algo mesmo. Qualquer coisinha. Esbarrar com a pessoa no clube tal. Chamar o outro para encontrar com ela e os amigos em algum bar. Marcar de se encontrar em um show ou concerto.

Percebeu que seus últimos encontros podem ter sido exatamente assim? Sem riscos? Sem a expectativa ou tentando camuflar a expectativa de ver aquela pessoa? E, nesse caso, não só os homens fazem isso. Já fiz isso com alguns caras por medo de perder a noite se eles não dessem as caras ou por medo de parecer muito disponível.

A disponibilidade também foi uma questão abordada no texto. Uma das garotas mencionou como passou quase quatro meses ficando com um cara nos fins de semana. Antes de cada encontro, a clássica mensagem da quinta-feira à noite! Nessas horas dá vontade de gritar: MEU DEUS, essa sou eu! 

Eu me achava louca e ansiosa por querer saber se ia rolar o encontro uma semana antes. Meus pais sempre me ensinaram que eu devia avisar com antecedência se eu iria sair e para onde eu iria. Eu cresci, tudo bem. Mas ainda é difícil se acostumar. É realmente impensável avisar lá no comecinho da semana que você iria querer encontrar aquela pessoa? 

E se a mensagem da quinta-feira –  quando não da sexta – fosse clara, ainda assim já seria um super avanço! Mas não se assuste se você receber um: “Quais os planos para o fim de semana?”.  Sempre que a pergunta era essa, eu passava alguns minutos de tensão tentando decifrar. Ele queria sair comigo? Ele queria uma sugestão de balada? Eu pareceria muito chata se falasse que ainda estava sem planos e pensava em ficar assistindo uns filmes em casa? Ou eu deveria apenas sugerir que queria sair com ele e devolver a pergunta? Primeiro eu deveria entender a pergunta para, em seguida, procurar a resposta certa.

Os encontros marcados em cima da hora sempre me faziam sentir como a segunda, terceira ou sabe-se lá que opção. Mesmo quando a pessoa tinha passado a semana conversando comigo via sms ou chat. Isso deveria significar alguma coisa ou não? Às vezes tinha a impressão de que estava disputando para ver quem parecia mais desinteressado.

Os encontros desmarcados me fizeram pegar um verdadeiro trauma. Eu deveria combinar de ficar com o carro no dia ou poderia deixar livre para o meu irmão e garantir o carro no fim de semana? Eu deveria mesmo me empenhar em fazer aquela produção se o cara combinou o encontro 10h e não tinha mais respondido nenhum whatsapp?

Eu ainda não sei a resposta para essas perguntas. Em muitas dessas situações, senti como se não estivesse recebendo o tratamento que eu merecia. Sempre tive vontade de falar para alguns desses caras, que mais tarde até se tornaram amigos, que eu me sentia madura o suficiente para encarar um “não quero compromisso” ou “tenho outros planos para hoje” dito com sinceridade. Seria mais prático que a não-marcação de encontros, os desaparecimentos temporários e as mensagens visualizadas mas não respondidas.

Aparentemente, o mal-estar não era só meu. O texto mostra que talvez você não tenha tido azar nas últimas tentativas. E se nós realmente não soubermos mais nos relacionar para além do fica?

6 comentários:

Arthur disse...

Cuidado pra não definir parte importante da tua vida pelo contato com o sexo masculino.

Anônimo disse...

Concordo com Arthur.

Seane Melo, Secoelho disse...

Também concordo com o Arthur. ^^
Mas acho que esse texto mostra pontos importantes sobre como a gente vem reproduzindo alguns comportamentos. Sei que tu pode ser resolvido com uma decisão nossa de como agir na contramão dessas tendências, mas nem sempre isso é fácil.De qualquer forma, a reflexão é válida.

Anônimo disse...

Eu nunca fui uma pessoa de muitos encontros com a mesma pessoa mas, estranhamente fazia sempre questão de informar de forma enfática tal comportamento.
Isso obviamente acarretou muitos problemas na dinâmica do processo da conquista, com certa razão, admito.
A pessoa cobiçada ficava menos avontade sendo informada, conscientizada de antemão que, aquilo provavelmente não teria uma continuidade.
O interessante ao meu ver - já que sou uma pessoa bizarra - é saber que algumas pessoas, preferem não pensar em algo que tem pelo menos, 80% de chances de ocorrer. É quase como você falar em morte e alguém te recriminar.

Seane Melo, Secoelho disse...

Eu já pensei que a estratégia de avisar que não aconteceria novamente seria uma boa. Mas, realmente, entendo que isso pode mexer com as pessoas de uma forma um tanto inesperada. Elas podem tomar como uma rejeição imediata.

Sempre me chateou muito o velho "a gente vai se falando", mas confesso que nunca passei pela situação de ter a certeza que não ocorreria novamente. Talvez achasse muito legal. E isso seria ruim, porque gostaria de repetir o encontro.

Anônimo disse...

Então, certeza ninguém tem. Muito menos eu.
Estou na verdade, fazendo o favor de informar as probabilidades.
No fim das contas, só acho justo com os envolvidos, mas por outro lado é o mesmo que nada, pois no final das contas eu posso me envolver como qualquer outra pessoa. É sempre 50/50.
No entanto, é como você disse, é muito inesperado, afinal estão os dois ali, fazendo a "dança do acasalamento", trocando cortesias e todo o processo de conquista, quando alguém diz algo que, pode ser considerados por muitos um tiro no pé. Certeza que a maioria precisa de um tempo pra pensar sobre isso, principalmente no caso da pessoa ser uma das enquadradas do texto sobre valorização.
Falando nisso, achei um belo texto, você pareceu estar bem inflamada nele.

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