segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Tudo isso

– Ele é realmente tudo isso? – Marcela me pergunta e fico lendo através das palavras dela.

Tento desvendar algo na face impassível da analista. A cada frase que conto dessa história, me sinto menor. O que eu tô fazendo aqui? Ela deve estar me odiando. As frases vão se formando em sequência. Parecem sinceras e profundas enquanto estão sendo formuladas, mas, ao ouvir o seu som, me envergonho. Eu não sei explicar essa merda toda, fofinho. Seria melhor se você viesse aqui explicar.

Penso na pergunta de Marcela, na indagação silenciosa da analista e na impaciência do Carlos.

– Ele é só um babaca, Rex! – ele diz como se quisesse me sacudir.

Mas, ali também, está a mesma pergunta. A questão verdadeira. O que eles imaginam, mas sabem que não têm como saber. Essa foda foi tão boa assim? Eu abano a cabeça exasperada. Não é disso que se trata! É claro que é disso. Mas não é.

Espero num canto da pista. Você está atrasado. Mexo no celular para fingir que não estou desconfortável. Acho que, no fim, foi uma ideia ridícula marcar um encontro em uma balada. Você chega suado. Não lembrava mais desse sorriso. Sorrio, mas tento não deixar transparecer que estou nervosa. Tenho medo que tudo dê errado. E dar errado aqui é sinônimo de ter uma noite constrangedora.

– Sabe uma coisa que odeio em primeiros encontros? – faço uma pergunta retórica.
– Hum...
– Esperar a hora do beijo. Porque, quanto mais demora, pior fica o clima. Então, vamos beijar agora e acabar com isso?
Você me olha um pouco perplexo.

O beijo é bom. Não penso nisso na hora. (O Carlos sempre ri da minha cara quando eu reclamo do beijo de alguém. Beijo, Rex? A gente não tá mais nessa fase de beijo.) Pego só os flashes da noite. Você perto. Muito perto. Segura minha cintura, me puxa, me aperta. Vai começar a banda. Você dança atrás de mim. Me puxa, me abraça por trás. Sinto seu pau na minha bunda.

Desculpa, analista. Eu sei que parece não ser importante. Mas importa. Eu tenho essa coisa de gostar de homem que fica duro assim, com beijo, com música, com dança, com bunda. A gente ri das letras das músicas. Você diz que quer beber. Eu não posso. Volta com boca de maracujá. Eu rio, te beijo. Combinou com a música, olha só.

Te levo pra casa. Meu endereço certo. Não é mais a Augusta com a Peixoto Gomide, mas também é cheia de bar. Não posso transar hoje. Tomei um remédio, não quero arriscar.

– Tudo bem

Será que ele entendeu? Porque ele quer dividir essa cama de solteiro comigo se a gente não vai transar? Não consigo parar de beijar você. Deita na cama. Aponto na direção. Você e aquela cara de surpreso, de não saber o que fazer. Obedece. Abro teu cinto, desabotoo a bermuda e começo a te libertar de tudo. Isso tem que ser dito assim, desculpa, analista. Mas tem que ser contado assim, porque eu relembro em câmera lenta. Ali, naquele momento, ainda existem todos os constrangimentos do mundo. Eu, de joelho em cima das tuas pernas, finjo que não. Que a cueca é mero detalhe. Não sei como a cena pula da cueca para o teu gosto na minha boca. E depois pula para a parte em que você geme e tem os primeiros tremores e me pede pra parar.

– Num quer que eu enfie em você?

Eu acho que me apaixonei por você aí. Não quero. O que isso tem a ver? Não pode ser os dois? Não posso. Não consigo decidir o que responder, olho para a minha mão abraçando o teu pau e decido apenas voltar a te chupar. Você treme mais.

– Tá bom?
– Não para.

– Para.
– Quê?
– Vô gozar
Rio e te ignoro.
– É sério
– Vem
– Mas... sua boca...

Leio um texto sobre mulheres que se achavam sexualmente livres, mas se descobriram prisioneiras. Uma amiga comenta a leitura comigo no WhatsApp. Ela acha muito machismo mulheres que se gabam de dar prazer aos homens. Aquelas que têm orgulho de dizer que chupam bem. Me jogo na cama e fito o telhado. Está na hora de guardar o teu gemido na gaveta. É machismo! Digo para mim mesma.

– É bem machista – eu mesma adianto para a analista. – Sabe, eu sempre me lembro dos caras que me deram muito amor. E eles diziam: "olha só isso que eu estou fazendo, isso é muito amor". E, por dentro, eu sentia essa tristeza de saber que, se amar muito era aquilo, eu nunca conseguiria fazer bem.

Seguro as palavras na garganta.


Eu gosto dos homens que não sabem amar, porque o pouco que eu tenho para dar até parece muito. Às vezes sobra. 


From: Jenny Yu

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto simplesmente foda! Literalmente... rsrs

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